sexta-feira, 14 de junho de 2013

Pecado Capital

Cabelo preto cacheado,
Boquinha vermelha
Que charme ela tem!
Se arruma feito uma princesa
Me olhando no espelho
Com cara de desdém
Quando essa nêga se arruma
Meu Deus, que beleza! 
Eu até passo mal
Que o Santo me ajude,
Pois essa mulher é
Meu pecado capital.
Eu me perco em seu corpo
Meu Deus, que sufoco
Essa paixão escondida
Me aventuro feito um louco
Atrás da morena
Que é fruta proibida
Me condenem ao inferno,
Mas esse pecado
Só tem me feito bem
Me prenda em sua rede,
Tu és minha bandida
E eu sou teu refém!

Manu Preta

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Poema para Iemanjá


Eu fui pro mar toda sequinha
Voltei de lá toda molhada
A onda veio e levou tudo
Voltei do mar abençoada.

Janaína levou a oferenda
E mandou muitas bençãos do mar
E eu fiquei na areia cantando:
-Odo Yá, Salve Mãe Iemanjá!

Vem na praia, minha sereia
Vem trazer uma conchinha pra mim
Pra que eu ponha no ouvido e ouça o barulho
Desse mar que não tem fim.

Com tua espada, minha Mãezinha,
Me ajude a guerrear
Pois na terra existe o mesmo perigo
Que tem lá no fundo do mar.

Manu Preta

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Poema de amor em um dia líquido

A chuva faz música no telhado
Enquanto assisto a dança dos pingos
Mirando a luz do poste
Da janela do meu quarto.
O pensamento dançante leva-me
Ao encontro de minha amada
Que possui em si as 7 maravilhas do meu mundo.
A primeira são seus olhos,
Duas jabuticabas maduras
Que me atiçam a colhê-las do pé.
A segunda, seu sorriso
Lábios macios e tentadores
Que iluminam sua face de mulher.
A terceira, sua voz
Melodia sem igual
Que dá vida aos meus dias apáticos.
A quarta, seus cabelos
Tão trançados feito nossas pernas
Em noites eternas de amor.
A quinta, suas curvas
Onde me perco e me encontro,
Onde adoro viajar.
A sexta, o seu cangote,
Minha casa, meu abrigo, meu lar.
E a sétima, seu abraço-escudo
Que me protege do resto do mundo
E promove o encontro de nossas almas.
Dia líquido cheio de lembranças sólidas
Que não deixam o meu peito sossegar.
A chuva não cessa de cair mundo a fora
E mundo a dentro meu coração
Não cessa de amar.

Manu Preta

terça-feira, 4 de junho de 2013

Menina dos Pés de Vento


Dois olhos, duas facas
Que acertam e dilaceram
Qualquer alvo ao seu dispor.
O meu peito, pobre alvo
Do teu olho enluarado,
Um espelho refletor.

More aqui ao meu ladinho
Com tua flor e teu espinho
Quero ver-te florescer
Debruçar-me sobre as pétalas
Que ao sol tão sempre abertas
Teu sorriso faz nascer.

Vem e traga a primavera
Faça a festa que essa espera
Só me faz anoitecer
Traga dia, traga flores
Alegrias e sabores
E tudo que for você

Pois o tempo é presente
Quando alguém que está ausente
Sente pressa em chegar
Vem, menina, de mansinho
Se ajeite no meu ninho
Sem ter pressa de voltar.

Teu espaço ocupa o mundo
E meu peito taciturno
Não te pode aprisionar
Fica livre, sem amarras
Pois eu nunca tive garras
Só pra ver você voar.

Só te peço um denguinho
E o teu gosto bem docinho
Em minha língua pra lembrar
Que fui tua em teu momento
E que nesse eterno tempo
Me pudeste devorar.

Menina dos pés de vento
Teu abraço é meu alento
Mesmo sem dele provar
Em ti vejo poesia
E desejo, noite e dia,
Nele um dia repousar.

Manu Preta

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mulher Nordestina

Falando de minhas terras
Onde boto muita fé
Vou contar só um pouquinho
Sobre aquele bem-me-quer
Que vadeia pelas ruas
Com o nome de mulher.

Pense num bicho arretado
Que merece até confete
Pois em minha humildade
Ainda que cabra da peste
Não me atrevo a bulir
Com uma mulher do nordeste.

Companheira indispensável
Do homem batalhador
Agüenta o frio, a seca e a fome,
Não desiste ante a dor
Pois além de ser guerreira
É um ser de puro amor.

Vai à luta logo cedo
Pra ganhar o seu sustento
Enfrenta sol e chuva forte
Terra, água, fogo e vento
Nada nunca é tão grande
Que provoque o seu tormento.

Admiro as mulheres
Que moram lá no sertão
Mesmo perdendo seu gado
O jumento e a plantação
Mantém firme a fé na chuva
Dentro do seu coração.

E lá na grande seca
Onde o mar é desejado
Severina de olhar triste
Tem o rosto escanhoado
Suas mãos são bem grosseiras
E seu pé encaliçado.

Quando falo de miséria
Me recordo do sertão
Sem ter água nem comida
Gado, jegue ou plantação
A mulher cozinha palma
E faz disso o seu pão.

Tem aquelas mãos de fada
Que fazem artesanato
Trazendo beleza nobre
Da linha vira um fato
Um papel e uma caneta
Logo vira o seu retrato.

Tem mulher que ta na feira
Pra vender o seu peixinho
Limpa tudo bem ligeiro
E você leva tratadinho
Um peixe delicioso.
Da Feira do Passarinho

E aquelas marisqueiras
Que não param de pescar
Jogam balde, jogam rede
Na lagoa e no mar
Depois tudo vira janta
Pra gente deliciar.

As Marias se reúnem
Bem na beira da lagoa
Esperando seus maridos
Encostarem as canoas
É a vez do sururu,
Delícia das Alagoas.

Tem mulher que é da roça
E está sempre a labutar
Vive arando sua terra
Pra colher o que plantar
Sobrevive só daquilo
Que o chão puder lhe dar.

Com a lata na cabeça
A Maria sobe o morro
Vai levando a sua cria
Que em prantos de socorro
Pede olhando pra sua mãe:
-Me dá água se não morro!

Limpa banheiro dos outros
Lava roupa de encomenda
Vive catando latinha
Ou trabalha em uma venda
Pra que o filho tenha almoço
Quando não tiver merenda.

Tem mulher que constrói casa
Com cimento e tijolão
Fala que trabalho duro
Num é só pra macho não
Mete logo a mão na massa
Com suor e dedicação.

Há também as professoras
Que vivem pra ensinar
Os meninos da escola
A escrever e soletrar
E além de tudo isso
Têm o dom de educar.

E na hora de parir
A mulher morre de dor
Mesmo sofrendo no parto
E gritando com o doutor
A mamãe dedica ao filho
O mais verdadeiro amor.

Passa frio, passa fome
E pro filho não chorar
Ela deixa de comer
Pra ele se alimentar
Prefere perder a vida
Do que ver ele penar.

Admirem as mulheres
Que são natas batuqueiras
Assumem suas raízes
Desde a cor à cabeleira
Lutam por seus ideais,
Têm o sangue de guerreira.

Tem mulher que é do terreiro
Que um dia foi calado
Lembrem Tia Marcelina
E seu templo consagrado
Que nas mãos do homem mau
Teve o sonho destroçado.

Hoje em dia a mulher forte
No axé de sua Oyá
Encabeça e cultua
O templo dos Orixás
Com a justiça de Xangô
E na paz de Oxalá.

Com a fé maior que a vida
Em procissão e romaria
A mulher reza pro santo
Dia e noite, noite e dia
Pra que a vida se transforme
Em um canto de alegria.

Tem também Dona Maria
Esposa de Seu José
Mãe do menino João
E filha de Seu Mané
Que não larga mão do terço
E em Jesus tem muita fé.

Às seis horas da manhã
Ela ajeita seu amado
O “armoço” na marmita
E o café recém-coado
-“Que Deus vá te iluminando
Pra ganhar nosso trocado.”

Quando o menino levanta
O café já ta prontinho
O lanche na merendeira
E o uniforme passadinho
Sua mãe lhe beija a testa
E abençoa seu caminho.

Mulher firme, mulher grande
Que é mãe e que é filha
Trabalha em ruas e becos
Ou então enfrenta fila
Garantindo seu sustento
E de toda sua família.

A mulher dona de casa,
Mulher que tem muita fé
Tem mulher que é diferente
E também gosta de mulher
Não perdendo seu encanto
Aos olhos de quem lhe quer.

Tem macho que é tão covarde
Que se atreve a bater
Em mulher, rosa formosa
Que nasceu pra bem-querer
Esquecendo que os espinhos
É pra ela se proteger.

E você, homem ingrato
Trate de valorizar
A mulher batalhadeira
Que governa o seu lar
Pois se ela for embora
Tudo vai se debandar.

Veja só o Lampião
Caba forte, destemido
Teve o coração laçado,
De amor foi preenchido
Quando viu Maria Bonita
De paixão ficou perdido.

Lhe pergunto, meu amigo
Existe coisa mais bela?
Arme logo aquele palco
E ajeite a passarela
Que a mulher do meu nordeste
Merece até auréola.

Me despeço com jeitinho
Falando em palavras finas
E dizendo que no mundo
Não há coisa mais divina
Que a doçura e a fortaleza
De uma mulher nordestina.

Manu Preta.