terça-feira, 28 de maio de 2013

Flor de Lírio e Sabiá

Vou contar-lhe uma história
Pra ocê apreciá
Sobre uma Flor de Lírio
Que amou um Sabiá
No correr desse cordel
Tudo se explicará.

Foi na Serra da Barriga
Que o encontro aconteceu
Sabiá viu Flor de Lírio
E seu coração bateu
Mas a bela em seu canto
Nem se quer o percebeu.

Sabiá olhou direito
E achou a Flor formosa
Toda aberta, exposta ao sol
Bem bonita e caprichosa
E pensou com seus miolos:
-Ela deve ser dengosa.

Mas a Flor em seu cantinho
Tinha presa sua raiz
Tava sendo bem regada
E quiçá tava feliz
Sua água era de longe,
Mas queria um chafariz

Sabiá namorador
Também era enraizado
Debochava do amor
E cantava adoidado
Não podia ver uma flor
Que mandava seu recado.

Mas a bela Flor de Lírio
Ficou na sua memória
Desejava com a Flor
Construir uma história
Dar um beijo na donzela
Lhe seria uma vitória.

E pensou consigo mesmo:
-Essa Flor tem que ser minha!
Vou cantar-lhe uma canção
Bem singela e bonitinha,
Vou levá-la pro meu ninho
Que é pra ser minha rainha.

Flor de Lírio distraída
Foi vivendo sem notar
Que esse Sabiá danado
Queria lhe cortejar
Tanto em forma de gracejos
Quanto pelo seu olhar.

Era um sorriso daqui
Um olhar de acolá
E a Flor sem entender
Só sorria ao Sabiá
Que pensava: - Qual o rumo
Que essa história tomará?

Quando foi um belo dia
O destino resolveu
Que a hora do encontro
Deveria ser no breu
E foi longe, no escuro
Que o encontro aconteceu.

Flor de Lírio ficou muda
Ao cruzar o seu olhar
Com o olhar do passarinho
Que queria lhe beijar
Mas não era ainda a hora
Nem ali era o lugar.

Bem confusa com o momento
Bela Flor voltou pensando
-Será que esse Sabiá
Já andou me paquerando?
Ele até que é bem formoso,
Vou ficar observando.

As raízes dessa Flor
Já estavam ressecadas,
A terra ficou bem dura
E as pétalas fechadas
O sol tava maltratando
E não era mais regada.

Sabiá mudou de ninho
Mas de coração fechado
Era quase impossível
Ele estar apaixonado
Só vivia seu momento
Sem deixar ser amarrado.

Suas asas ajudaram
A chegar mais perto dela
Pouco a pouco, galho em galho
Paquerando na janela
Onde ela sempre estava,
Cor vermelha e amarela.

Flor de Lírio nem sonhava
Que ele sabia cantar
Sabiá sempre discreto
Nem se quer tentou mostrar
Um pouquinho do talento
Que vivia a preservar.

Nas esquinas dessa vida
Seus caminhos se cruzaram
Em um dia de domingo
Finalmente se tocaram,
Explodiu o sentimento
Do jeito que não sonharam.

Desse dia em diante
Flor de Lírio percebeu
Que não foi simples acaso
Tudo que aconteceu
Corações se engalfinharam
E algo novo ali nasceu.

Sabiá todo medroso
Nem podia acreditar
Que corria grande risco
Dele se apaixonar
Foi voando com cuidado
Pra poder não se amarrar.

Flor de Lírio se livrou
Do vaso que lhe prendia
Pois queria o Sabiá
Dia e noite, noite e dia,
Enfeitar seu belo ninho
Era tudo que queria.

Esse pássaro matreiro
Ainda tava enrolado
Nas palhas do velho ninho
Onde havia antes pousado
Desejava ficar livre
Pra voar mais sossegado.

Depois de estarem juntos
Sem passado no presente
Sabiá olhou em volta
E pensou bem de repente:
- Eu preciso voar só
Que assim não to contente.

Flor de Lírio ficou triste
Mas em todo seu penar
Entendia que as asas
Foram feitas pra voar
E se assim estivesse escrito
Sabiá ia voltar.

Quinze dias se passaram
E a Flor entristecida
Enquanto ele voava
Repensando sua vida,
Mas a sua Flor menina
Não foi nunca esquecida.

Se encontraram novamente
E ali houve verdade
Se abraçaram sem demora
Quase mortos de saudade
Se uniram pra valer
Deixando de ser metade.

E então o Sabiá
Repousou logo no ninho
E abriu seu coração
Pra que a Flor livre de espinho
Pudesse ser companheira
No correr de seu caminho.

Hoje em dia a alegria
Está com os dois a sobejar
Um futuro bonitinho
Eles querem planejar,
Sabiá com Flor de Lírio
Quer um dia se casar.

Pois lhe digo que o amor
É coisa que não se explica
Até coração de pedra
Ele vai e modifica,
E a raiz que estava morta
É o amor que vivifica.

Quem já viu um Sabiá
Se encantar por uma Flor?
Eu lhe digo, meu amigo
Isso é culpa do amor
É doença que não cura
Nem tendo o melhor doutor.

Um sorriso e um cantar
Despertou essa paixão
Que é um tanto inusitada
Mas tocou o coração
Igualdade e diferença
É que fez essa união.

Vou deixar uma lição
Antes de finalizar:
A beleza dessa vida
Se resume em amar
E até em uma rocha
O amor pode brotar.

Só desejo eternidade
E um punhado de amor
Pra esse romance lindo
Onde o tempo foi senhor
Um “felizes para sempre”
Para o Sabiá e a Flor.

Manu Preta.

Ps.: Eis aqui, meus caros leitores, um poema de amor.


segunda-feira, 27 de maio de 2013

Queixa docente

Seu dotô me arresponda
Vá fazendo esse favor
Que miséria da muléstia
É a paga do professor?
Nem me diga essa história
Que o ensino é por amor
Que amor num paga conta,
Eu garanto pro sinhô.

Lá em casa a fartura
Não está de brincadeira
Farta tudo, inté panela
Num tem pão na minha pãozeira
Veja bem que nem um ovo
Eu tenho na geladeira
Quem dirá 50 conto
Pra poder fazer a feira.

Tô latindo no quintal
Pra não gastar a cadela
Até a coitada sofre
Sem ração na sua tigela
Minha luz já ta cortada
E tô jantando à luz de vela
Quando vou comprar fiado
O povo grita: - lá vem ela!

Se adoeço minha cura
Só se dá com lambedor
Falta grana pro xarope
E pro remédio de dor
Minha sorte é a plantinha
Do quintal da minha vizinha
Que me ajuda com amor.

Se eu morrer um dia desse
Chegando do outro lado
Vou pedir satisfação
Pra quem fez esse ditado
Por que amor é coisa boa
Mas valor ele num tem
O dinheiro é necessário
Dólar, euro ou vintém
Pra viver aqui na terra
Antes de ir pro além.

Imagino até a cara
do nosso Pai Criador
Quando ouvir a minha queixa
Sobre a vida do professor
Que ganha menos que um cabra
Que da vida não faz nada
E se diz governador.

Ele vai me olhar de lado
Juntamente com um sorriso
E dirá: não fale nada
Lhe juro, não é preciso
Escolher essa profissão
É pra quem não tem juízo
Sabe que vai ser mal pago
Viver liso e humilhado
E padecer no paraíso.


Manu Preta