segunda-feira, 27 de maio de 2013

Queixa docente

Seu dotô me arresponda
Vá fazendo esse favor
Que miséria da muléstia
É a paga do professor?
Nem me diga essa história
Que o ensino é por amor
Que amor num paga conta,
Eu garanto pro sinhô.

Lá em casa a fartura
Não está de brincadeira
Farta tudo, inté panela
Num tem pão na minha pãozeira
Veja bem que nem um ovo
Eu tenho na geladeira
Quem dirá 50 conto
Pra poder fazer a feira.

Tô latindo no quintal
Pra não gastar a cadela
Até a coitada sofre
Sem ração na sua tigela
Minha luz já ta cortada
E tô jantando à luz de vela
Quando vou comprar fiado
O povo grita: - lá vem ela!

Se adoeço minha cura
Só se dá com lambedor
Falta grana pro xarope
E pro remédio de dor
Minha sorte é a plantinha
Do quintal da minha vizinha
Que me ajuda com amor.

Se eu morrer um dia desse
Chegando do outro lado
Vou pedir satisfação
Pra quem fez esse ditado
Por que amor é coisa boa
Mas valor ele num tem
O dinheiro é necessário
Dólar, euro ou vintém
Pra viver aqui na terra
Antes de ir pro além.

Imagino até a cara
do nosso Pai Criador
Quando ouvir a minha queixa
Sobre a vida do professor
Que ganha menos que um cabra
Que da vida não faz nada
E se diz governador.

Ele vai me olhar de lado
Juntamente com um sorriso
E dirá: não fale nada
Lhe juro, não é preciso
Escolher essa profissão
É pra quem não tem juízo
Sabe que vai ser mal pago
Viver liso e humilhado
E padecer no paraíso.


Manu Preta




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