segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mulher Nordestina

Falando de minhas terras
Onde boto muita fé
Vou contar só um pouquinho
Sobre aquele bem-me-quer
Que vadeia pelas ruas
Com o nome de mulher.

Pense num bicho arretado
Que merece até confete
Pois em minha humildade
Ainda que cabra da peste
Não me atrevo a bulir
Com uma mulher do nordeste.

Companheira indispensável
Do homem batalhador
Agüenta o frio, a seca e a fome,
Não desiste ante a dor
Pois além de ser guerreira
É um ser de puro amor.

Vai à luta logo cedo
Pra ganhar o seu sustento
Enfrenta sol e chuva forte
Terra, água, fogo e vento
Nada nunca é tão grande
Que provoque o seu tormento.

Admiro as mulheres
Que moram lá no sertão
Mesmo perdendo seu gado
O jumento e a plantação
Mantém firme a fé na chuva
Dentro do seu coração.

E lá na grande seca
Onde o mar é desejado
Severina de olhar triste
Tem o rosto escanhoado
Suas mãos são bem grosseiras
E seu pé encaliçado.

Quando falo de miséria
Me recordo do sertão
Sem ter água nem comida
Gado, jegue ou plantação
A mulher cozinha palma
E faz disso o seu pão.

Tem aquelas mãos de fada
Que fazem artesanato
Trazendo beleza nobre
Da linha vira um fato
Um papel e uma caneta
Logo vira o seu retrato.

Tem mulher que ta na feira
Pra vender o seu peixinho
Limpa tudo bem ligeiro
E você leva tratadinho
Um peixe delicioso.
Da Feira do Passarinho

E aquelas marisqueiras
Que não param de pescar
Jogam balde, jogam rede
Na lagoa e no mar
Depois tudo vira janta
Pra gente deliciar.

As Marias se reúnem
Bem na beira da lagoa
Esperando seus maridos
Encostarem as canoas
É a vez do sururu,
Delícia das Alagoas.

Tem mulher que é da roça
E está sempre a labutar
Vive arando sua terra
Pra colher o que plantar
Sobrevive só daquilo
Que o chão puder lhe dar.

Com a lata na cabeça
A Maria sobe o morro
Vai levando a sua cria
Que em prantos de socorro
Pede olhando pra sua mãe:
-Me dá água se não morro!

Limpa banheiro dos outros
Lava roupa de encomenda
Vive catando latinha
Ou trabalha em uma venda
Pra que o filho tenha almoço
Quando não tiver merenda.

Tem mulher que constrói casa
Com cimento e tijolão
Fala que trabalho duro
Num é só pra macho não
Mete logo a mão na massa
Com suor e dedicação.

Há também as professoras
Que vivem pra ensinar
Os meninos da escola
A escrever e soletrar
E além de tudo isso
Têm o dom de educar.

E na hora de parir
A mulher morre de dor
Mesmo sofrendo no parto
E gritando com o doutor
A mamãe dedica ao filho
O mais verdadeiro amor.

Passa frio, passa fome
E pro filho não chorar
Ela deixa de comer
Pra ele se alimentar
Prefere perder a vida
Do que ver ele penar.

Admirem as mulheres
Que são natas batuqueiras
Assumem suas raízes
Desde a cor à cabeleira
Lutam por seus ideais,
Têm o sangue de guerreira.

Tem mulher que é do terreiro
Que um dia foi calado
Lembrem Tia Marcelina
E seu templo consagrado
Que nas mãos do homem mau
Teve o sonho destroçado.

Hoje em dia a mulher forte
No axé de sua Oyá
Encabeça e cultua
O templo dos Orixás
Com a justiça de Xangô
E na paz de Oxalá.

Com a fé maior que a vida
Em procissão e romaria
A mulher reza pro santo
Dia e noite, noite e dia
Pra que a vida se transforme
Em um canto de alegria.

Tem também Dona Maria
Esposa de Seu José
Mãe do menino João
E filha de Seu Mané
Que não larga mão do terço
E em Jesus tem muita fé.

Às seis horas da manhã
Ela ajeita seu amado
O “armoço” na marmita
E o café recém-coado
-“Que Deus vá te iluminando
Pra ganhar nosso trocado.”

Quando o menino levanta
O café já ta prontinho
O lanche na merendeira
E o uniforme passadinho
Sua mãe lhe beija a testa
E abençoa seu caminho.

Mulher firme, mulher grande
Que é mãe e que é filha
Trabalha em ruas e becos
Ou então enfrenta fila
Garantindo seu sustento
E de toda sua família.

A mulher dona de casa,
Mulher que tem muita fé
Tem mulher que é diferente
E também gosta de mulher
Não perdendo seu encanto
Aos olhos de quem lhe quer.

Tem macho que é tão covarde
Que se atreve a bater
Em mulher, rosa formosa
Que nasceu pra bem-querer
Esquecendo que os espinhos
É pra ela se proteger.

E você, homem ingrato
Trate de valorizar
A mulher batalhadeira
Que governa o seu lar
Pois se ela for embora
Tudo vai se debandar.

Veja só o Lampião
Caba forte, destemido
Teve o coração laçado,
De amor foi preenchido
Quando viu Maria Bonita
De paixão ficou perdido.

Lhe pergunto, meu amigo
Existe coisa mais bela?
Arme logo aquele palco
E ajeite a passarela
Que a mulher do meu nordeste
Merece até auréola.

Me despeço com jeitinho
Falando em palavras finas
E dizendo que no mundo
Não há coisa mais divina
Que a doçura e a fortaleza
De uma mulher nordestina.

Manu Preta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário