Falando
de minhas terras
Onde
boto muita fé
Vou
contar só um pouquinho
Sobre
aquele bem-me-quer
Que
vadeia pelas ruas
Com
o nome de mulher.
Pense
num bicho arretado
Que
merece até confete
Pois
em minha humildade
Ainda
que cabra da peste
Não
me atrevo a bulir
Com
uma mulher do nordeste.
Companheira
indispensável
Do
homem batalhador
Agüenta
o frio, a seca e a fome,
Não
desiste ante a dor
Pois
além de ser guerreira
É
um ser de puro amor.
Vai
à luta logo cedo
Pra
ganhar o seu sustento
Enfrenta
sol e chuva forte
Terra,
água, fogo e vento
Nada
nunca é tão grande
Que
provoque o seu tormento.
Admiro
as mulheres
Que
moram lá no sertão
Mesmo
perdendo seu gado
O
jumento e a plantação
Mantém
firme a fé na chuva
Dentro
do seu coração.
E
lá na grande seca
Onde
o mar é desejado
Severina
de olhar triste
Tem
o rosto escanhoado
Suas
mãos são bem grosseiras
E
seu pé encaliçado.
Quando
falo de miséria
Me
recordo do sertão
Sem
ter água nem comida
Gado,
jegue ou plantação
A
mulher cozinha palma
E
faz disso o seu pão.
Tem
aquelas mãos de fada
Que
fazem artesanato
Trazendo
beleza nobre
Da
linha vira um fato
Um
papel e uma caneta
Logo
vira o seu retrato.
Tem
mulher que ta na feira
Pra
vender o seu peixinho
Limpa
tudo bem ligeiro
E
você leva tratadinho
Um
peixe delicioso.
Da
Feira do Passarinho
E
aquelas marisqueiras
Que
não param de pescar
Jogam
balde, jogam rede
Na
lagoa e no mar
Depois
tudo vira janta
Pra
gente deliciar.
As
Marias se reúnem
Bem
na beira da lagoa
Esperando
seus maridos
Encostarem
as canoas
É
a vez do sururu,
Delícia
das Alagoas.
Tem
mulher que é da roça
E
está sempre a labutar
Vive
arando sua terra
Pra
colher o que plantar
Sobrevive
só daquilo
Que
o chão puder lhe dar.
Com
a lata na cabeça
A
Maria sobe o morro
Vai
levando a sua cria
Que
em prantos de socorro
Pede
olhando pra sua mãe:
-Me
dá água se não morro!
Limpa
banheiro dos outros
Lava
roupa de encomenda
Vive
catando latinha
Ou
trabalha em uma venda
Pra
que o filho tenha almoço
Quando
não tiver merenda.
Tem
mulher que constrói casa
Com
cimento e tijolão
Fala
que trabalho duro
Num
é só pra macho não
Mete
logo a mão na massa
Com
suor e dedicação.
Há
também as professoras
Que
vivem pra ensinar
Os
meninos da escola
A
escrever e soletrar
E
além de tudo isso
Têm
o dom de educar.
E
na hora de parir
A
mulher morre de dor
Mesmo
sofrendo no parto
E
gritando com o doutor
A
mamãe dedica ao filho
O
mais verdadeiro amor.
Passa
frio, passa fome
E
pro filho não chorar
Ela
deixa de comer
Pra
ele se alimentar
Prefere
perder a vida
Do
que ver ele penar.
Admirem
as mulheres
Que
são natas batuqueiras
Assumem
suas raízes
Desde
a cor à cabeleira
Lutam
por seus ideais,
Têm
o sangue de guerreira.
Tem
mulher que é do terreiro
Que
um dia foi calado
Lembrem
Tia Marcelina
E
seu templo consagrado
Que
nas mãos do homem mau
Teve
o sonho destroçado.
Hoje
em dia a mulher forte
No
axé de sua Oyá
Encabeça
e cultua
O
templo dos Orixás
Com
a justiça de Xangô
E
na paz de Oxalá.
Com
a fé maior que a vida
Em
procissão e romaria
A
mulher reza pro santo
Dia
e noite, noite e dia
Pra
que a vida se transforme
Em
um canto de alegria.
Tem
também Dona Maria
Esposa
de Seu José
Mãe
do menino João
E
filha de Seu Mané
Que
não larga mão do terço
E
em Jesus tem muita fé.
Às
seis horas da manhã
Ela
ajeita seu amado
O
“armoço” na marmita
E
o café recém-coado
-“Que
Deus vá te iluminando
Pra
ganhar nosso trocado.”
Quando
o menino levanta
O
café já ta prontinho
O
lanche na merendeira
E
o uniforme passadinho
Sua
mãe lhe beija a testa
E
abençoa seu caminho.
Mulher
firme, mulher grande
Que
é mãe e que é filha
Trabalha
em ruas e becos
Ou
então enfrenta fila
Garantindo
seu sustento
E
de toda sua família.
A
mulher dona de casa,
Mulher
que tem muita fé
Tem
mulher que é diferente
E
também gosta de mulher
Não
perdendo seu encanto
Aos
olhos de quem lhe quer.
Tem
macho que é tão covarde
Que
se atreve a bater
Em
mulher, rosa formosa
Que
nasceu pra bem-querer
Esquecendo
que os espinhos
É
pra ela se proteger.
E
você, homem ingrato
Trate
de valorizar
A
mulher batalhadeira
Que
governa o seu lar
Pois
se ela for embora
Tudo
vai se debandar.
Veja
só o Lampião
Caba
forte, destemido
Teve
o coração laçado,
De
amor foi preenchido
Quando
viu Maria Bonita
De
paixão ficou perdido.
Lhe
pergunto, meu amigo
Existe
coisa mais bela?
Arme
logo aquele palco
E
ajeite a passarela
Que
a mulher do meu nordeste
Merece
até auréola.
Me
despeço com jeitinho
Falando
em palavras finas
E
dizendo que no mundo
Não
há coisa mais divina
Que
a doçura e a fortaleza
De
uma mulher nordestina.
Manu Preta.
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